Uma fritadeira, uma masseira, uma máquina de chope e dez mesas com quatro cadeiras. Foi com essa estrutura que a Dom Pastel, então uma simples pastelaria, foi aberta em Fortaleza em 1989. Trinta anos depois, o restaurante tem dois mil metros quadrados e vende os mais variados pratos, incluindo pizzas e até mesmo sushi.
Mas a Dom Pastel não é o protagonista dessa história – nem da trajetória empreendedora de Afrânio Barreira e Daniela Barreira, seus fundadores. Foi ao ver o potencial do negócio que os dois decidiram criar o Coco Bambu, hoje uma rede com 33 restaurantes e faturamento de R$ 780 milhões. A expectativa é chegar a R$ 1 bilhão até o ano que vem.
Novos ares
Engenheiro de formação, Afrânio, 61, trabalhou na área por vários anos – primeiro como funcionário e depois como dono de uma construtora. Seu sonho, como o de muitos, era ser dono do seu próprio negócio. Ele também teve dois postos que ofereciam manutenção e serviços para veículos.
Quando se casou com a administradora de empresas Daniela, 52, passou a compartilhar do seu sonho de também empreender – mas, nesse caso, com foco na gastronomia. Em 89, os dois abriram a Dom Pastel em um espaço de apenas 25 metros quadrados em um pequeno centro comercial do qual Afrânio era dono.
Quatro anos depois, quando teve certeza que o negócio estava vingando, ele fechou a construtora, vendeu os dois postos e decidiu investir de vez nessa área. Em 2001, surgiria o primeiro restaurante Coco Bambu. Afrânio ficou responsável pela parte administrativa e Daniela, pelos cardápios.
Da primeira para a 33ª unidade, foram várias as transformações. As principais dela envolvem a sofisticação dos espaços e dos pratos. Hoje, cada restaurante aberto custa R$ 10 milhões. Ele diz não se lembrar de quanto investiu no primeiro, mas chuta um valor na casa dos R$ 100 mil.
“Quando você começa lá atrás, tem menos capital e não pode oferecer o que há de melhor. Quando ganha musculatura e pode oferecer isso, você deslancha”, afirma o empresário. Ele diz, com orgulho, que nunca pegou nenhum empréstimo e sempre cresceu de forma orgânica.
Foi com essa convicção, aliás, que ele desistiu de um grande projeto: uma unidade Coco Bambu em Miami. Aberto em 2017, o restaurante sofreu com uma concorrência acirrada e a demanda de investimentos caros (e em dólar). Em 2018, Barreira e seus sócios deciriam fechá-lo. “Eu vi que aquele investimento não valia a pena e que eu teria que me endividar para crescer lá. Por isso, não prosseguimos”.
Caminhos
O empresário credita o sucesso da rede a vários fatores. O primeiro deles é se cercar das pessoas certas. Isso inclui da equipe de cozinheiros até os sócios-proprietários. Cada unidade é administrada por dois ou três deles, escolhidos a dedo por Barreira. “A equipe é quem faz a roda girar. Os sócios atuando full time como um olho do dono também é um item importante”.
Oferecer bom custo-benefício e um serviço “encantador” também seriam essenciais. Embora os restaurantes sejam mais conhecidos pelos frutos do mar e pelo luxo, ele diz que o cardápio é muito mais variado e não exclui nenhum público. “Você pode tanto pedir um vinho de R$ 3 mil quanto um prato de R$ 39,90 que dá para duas pessoas”, afirma.
Os cardápios e a estrutura da marca também são constantemente reavaliadas. Daniela é quem avalia os pratos que têm se popularizado e os que quase não saem. A cada seis meses, ela tira e acrescenta novas receitas. Reuniões com os sócios, realizadas três vezes por ano, discutem da inovação dos produtos à adoção de tecnologias nas unidades.
Para quem quer trilhar o mesmo caminho, Barreira dá quase um ultimato. É preciso estar disposto a trabalhar de segunda a domingo e não ter hora para sair. “Se quer ser um empreendedor, faça votos como o padre faz para pegar a batina. É ter o negócio como trabalho, lazer, religião e hobby”.
Futuro
Hoje, as 33 unidades do restaurante, espalhadas do Amazonas ao Rio Grande do Sul, somam quase 25 mil assentos. O plano é abrir mais seis lojas este ano e outras seis em 2022. Barreira também não descarta uma nova aposta no exterior no futuro.
O importante, diz ele, é que o crescimento não “atropele” o negócio. “Nós queremos ir longe, ter sustentabilidade e estabilidade. Se tudo isso resultar em sermos maiores, ótimo”.